Konkō-kyō: O Ensinamento da Luz Dourada.
O Shintō é uma espiritualidade nativa do Japão e uma das mais antigas do mundo; tendo as suas origens no passado incontável e sustentada na devoção de Divindades denominadas Kami.
O conceito de Kami quer dizer literalmente espírito que causa admiração; o que tem a ver com uma visão ontológica muito precisa onde tudo é olhado como sendo o recetáculo ou manifestação de espíritos e onde os Kami se destacam dentre eles pela qualidade de fascínio ou sensação de maravilha que emitem de si próprios e que constitui a sua própria essência.
Mas o Shintō não é uma espiritualidade doutrinal, pelo contrário, constitui uma via transcendental ao nível da cultura, ou seja, dos usos, costumes e tradições que modelam o ser Japonês e não uma doutrina revelada como no caso da religião.
Assim sendo, se bem existem uma série de fatores simbólicos, ritualísticos e conceptuais comuns aos praticantes de Shintō; existe também grande variabilidade ao nível de crenças, o que faz desta tradição algo inerentemente universal e maleável.
No entanto, apesar desta variabilidade, existem elementos que são praticamente universais no Shintō, como as conceções do puro e impuro, a prática da gratidão e o respeito para com os Kami assim como a existência de Templos dirigidos por um Sacerdócio focados na devoção grupal e a existência de pequenos altares de casa ou Kamidana para a prática individual no lar.
No caso da Konkō-kyō (Ensinamento da Luz Dourada), trata-se de uma Seita Shintō fundada no século XIX por Ikigami Konko Daijin-sama seguindo as instruções diretas de Tenchi Kane No Kami-sama.
De acordo com as revelações recebidas por Ikigami Konko Daijin-sama; Tenchi Kane No Kami-sama é uma divindade parental e matriz de realidade; na verdade, nenhum altar é preciso para render devoção a Kami-sama pois o Universo é conceptualizado como o Corpo e Altar da Divindade pelo qual o ato devocional pode ser feito em qualquer local e em qualquer circunstância, em contraste com outras tradições Shintō onde o ato devocional requer um recetáculo físico que consagra a divindade no objeto ou a vincula com um Templo em particular onde ela reside.
No seguimento destas revelações, afirma-se a existência de uma relação de interdependência entre Kami-sama e o devoto, que é realizada através da Fé sincera onde abrimos o nosso coração para Kami-sama e então encontramos Kami-sama dentro do nosso coração.
Outro elemento de importância na tradição da Konkō-kyō é o Toritsugui ou Mediação, onde no solitário ou através do Sacerdócio, é efetivada uma comunicação pessoal com Kami-sama afim de estabelecer ou fortalecer o vínculo entre o devoto e a Divindade.
A essência da Fé Konko encontra-se no Recordatório Divino, um pequeno texto recebido por Ikigami Konko Daijin-sama que lê:
De Tenchi Kane No Kami-sama,
Através de Ikigami Konko Daijin-sama:
Ora sinceramente,
com todo o teu coração.
Sê um com Kami-sama.
As bênçãos de Kami-sama começam no interior
nos corações gratos e compassivos,
harmoniosos e alegres.
Procura sempre a Kami-sama,
hoje e sempre.
Neste preciso dia, ora.
Para finalizar, é de relevância referir que as revelações recebidas por Ikigami Konko Daijin-sama não são seguidas nem consideradas de forma doutrinal.
Na ótica da Fé Konko, elas constituem uma expressão do relacionamento pessoal entre o fundador e a divindade, mas através da prática do Toritsugi, recebemos uma revelação pessoal com significado para as nossas vidas no particular, no exemplo de Ikigami Konko Daijin-sama.
No dia a dia muitas coisas que o fundador recebeu como revelação não são aceites por todos os devotos da Fé Konko e a própria Konkō-kyō não apela para tal estandardização doutrinal por via da revelação, pois o ênfase não é na coisa revelada através do fundador mas sim na experiência direta e mística que cada um de nós desenvolve na nossa devoção para com Kami-sama.
Namu Myōhō Renge Kyō!
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